Reconciliação nacional

Acabámos de ler um artigo onde é citado o investigador angolano Eugénio Costa Almeida, defendendo uma comissão de reconciliação nacional sobre os fuzilamentos do 27 de Maio. Apoiamos a sugestão mas consideramos que ela peca por defeito.

Por Domingos Kambunji

Algo de muito importante já se iniciou em Angola no sentido de reconhecer o mérito para a independência nacional de verdadeiros heróis da nossa terra, nas homenagens do dia 11 de Novembro deste ano. Todavia pensamos ser hipocrisia a ideia de colocar esses heróis num patamar igual ou inferior ao do Agostinho Neto e do José Eduardo dos Santos. Se Agostinho Neto é herói nacional também o são Holden Roberto e Jonas Savimbi.

Esta pressa de inventar e impor “heróis” leva o MPLA a confundir sanguinários, com práticas semelhantes às dos bandoleiros da Idade Média, com pessoas que defendem o altruísmo e o holismo.

A história do MPLA, sob a liderança de Agostinho Neto, é demasiado lamacenta e sanguinária, como explicam os pensamentos, factos e as conclusões publicadas por William Tonet e outros angolanos com conhecimento e uma verdadeira capacidade de pensamento crítico inteligente, nunca desmentida.

O Agostinho Neto é herói nacional porque iniciou a guerra civil que o MPLA conseguiu vencer porque matou muitíssimos mais angolanos?

O Agostinho Neto é “herói” nacional porque iniciou uma guerra civil para combater o ideal que o MPLA defende agora?

Não é de admirar este anquilosamento mental que permitiu a implantação de uma cultura “teocrática”, em que o deus é sempre o presidente do MPLA. Aconteceu assim com Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos e está a acontecer agora com João Lourenço. No fim de contas, que diferença existe em idolatria entre o que aconteceu e acontece em Angola e o que acontece no Irão, nas Filipinas, na Rússia, China ou na Venezuela?…

É este o principal motivo porque assistimos a mutações de cobras e ratos do passado que se apresentam agora como papagaios, ecolaliando os discursos oficiais de democracia e liberdade.

O escritor Manuel Rui Monteiro, cúmplice nos fuzilamentos do 27 de Maio, já conseguiu arranjar dinheiro para comprar umas asas de anjinho e, assim mascarado, já está pronto para participar na procissão da hipocrisia, disfarçado de democrata.

O João Melo, Ministro da Propaganda e Educação Patriótica, que se destacou no passado pela subserviência e obediência no exercício de diversos cargos de cangaceiro do MPLA, agora também é democrata e defende a liberdade de informação para maldizer José Eduardo dos Santos.

O João Lourenço, ex-Ministro da Defesa da Roubalheira, agora diz que quando foi “nomeado” para presidente, encontrou os cofres do Estado vazios. Ele, que era Ministro da Defesa no auge da cleptocracia obediente às “ordens superiores” do José Eduardo dos Santos, defendeu ou ajudou ao esvaziamento dos cofres do Estado? Agora produz esganiçadas carpidelas dizendo que não é milionário. Não é isso que diz o resultado das investigações do Rafael Marques, nunca desmentidas. As informações disponíveis mostram que o João Lourenço até era sócio do Zenu e sócio do sócio do Zenu, ambos na cadeia.

A história da governação do MPLA mostra que é demasiado elevado o número de garimpeiros saprófitas a ocuparem cargos de bajuladores e bajuladores-adjuntos nos órgãos oficiais de propaganda e educação patriótica, sempre disponíveis para papaguearem o que o chefe manda dizer.

Um desses répteis saprófitas, que mudou para papagaio, é o Victor Silva do jornal da Angola do MPLA. Ele, que nunca criticou o apoio de 99.6% a José Eduardo dos Santos, agora diz que “o país anda atrás do prejuízo em quase todos os domínios, depois de anos de conflito militar e anos em que se inverteram os valores comuns de uma convivência sã em sociedade”.

Os valores dos bajuladores e bajuladores-adjuntos dos órgãos oficiais de informação da Re(i)pública da Angola do MPLA são muito vendáveis nos mercados de futilidades.

Numa das escolas onde se tratam crianças com diversos atrasos no desenvolvimento lemos um cartaz que diz: “O verdadeiro líder é aquele que é capaz de dizer o que é certo quando a maioria está errada”.

O Victor Silva, depois de tantas mutações, apresentando-se agora como papagaio, ainda não aprendeu nem consegue aprender o que é liderança. Continua a desempenhar as funções de seguidor, obediente às ordens superiores.

Estes papagaios sipaios, amestrados e formatados no tempo de José Eduardo dos Santos, não sabem o que é pensamento crítico construtivo porque essa matéria foi banida do curriculum das aulas de educação patriótica patética.

A candidata mais jovem eleita para o Congresso dos Estados Unidos da América, pelo Partido Democrata, Alexandria Ocasio-Cortez, desafiando o “status quo”, resolveu competir contra um dos mais prestigiados congressistas do seu partido. Venceu as primárias e derrotou o candidato republicano, apoiante de Donald Trump, com uma votação de cerca de 75%.

Uma situação deste tipo é impossível na Re(i)pública da Angola do MPLA, onde o presidente e o comité central do partido são quem decide as eleições e nomeiam os mais obedientes. Este paternalismo politico permite ao MPLA governar-se e manter o país cada vez mais na mesma.

Na Re(i)pública da Angola do MPLA ainda é proibido, porque viola os princípios da “educação patriótica”, fazer debates parlamentares confrontando o presidente e os seus capangas ministros.

A verdadeira reconciliação nacional só acontecerá quando for possível fazer o funeral do paternalismo matumbo implantado no nosso país.

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